Burnout, depressão e estresse são problemas de saúde específicos. Apesar de terem sintomas semelhantes, as três condições são tratadas e classificadas de maneira distinta pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para a OMS, o burnout não é uma condição médica, mas um fenômeno ligado ao trabalho. Já a depressão é uma doença psiquiátrica crônica. O estresse, por sua vez, é uma resposta do corpo às circunstâncias do dia a dia. Ele pode ser um indício de alguma doença ou apenas uma reação pontual a condições externas, negativas ou positivas.
Veja abaixo as principais características dos três problemas:
- Burnout: é uma síndrome resultante de estresse crônico e necessariamente tem origem no ambiente de trabalho;
- Depressão: é uma doença psiquiátrica crônica, que afeta pessoas de todas as idades;
- Estresse: é uma reação fisiológica automática do corpo a circunstâncias que exigem ajustes comportamentais.
Entenda o que são essas condições, seus sintomas e tratamentos:
Burnout
O que é?
Necessariamente relacionado ao trabalho, o burnout é um transtorno que se desenvolve gradualmente por conta de desajustes entre o trabalho e o indivíduo. Ele afeta homens e mulheres que vivem situações de estresse constante ou prolongado no ambiente de trabalho.
A síndrome pode ser decorrente de uma carga horária excessiva, falta de reconhecimento dos chefes ou de um cansaço profundo, por exemplo, que não se resolve apenas com descanso ou férias. Outros fatores que podem desencadear o burnout no trabalho são:
- Excesso de responsabilidades
- Pouca autonomia para tomar decisões
- Falta de justiça no ambiente de trabalho
- Conflitos de valor no trabalho
Ana Maria Rossi, psicóloga e coordenadora no Brasil da “International Stress Management Association” no Brasil (Isma), disse ao G1 que uma pesquisa realizada pela organização ao longo de 2018 – e ainda não apresentada publicamente – identificou que 72% dos brasileiros têm alguma sequela do burnout, seja em nível leve, intermediário ou alto. Entre essas pessoas, 32% sofrem de burnout.
Sintomas
Cansaço extremo, irritabilidade, alterações repentinas de humor: os sintomas do burnout muitas vezes são semelhantes aos de outras condições de saúde como a ansiedade e a depressão.
Os principais efeitos do burnout são:
- Cansaço excessivo físico e mental
- Dor de cabeça frequente
- Alterações no apetite
- Insônia
- Dificuldades de concentração
- Alteração nos batimentos cardíacos
Por ter sintomas parecidos com os da depressão e da ansiedade, a síndrome muitas vezes não é identificada corretamente.
No Brasil, o Ministério da Saúde afirma que a síndrome de burnout “pode resultar em estado de depressão profunda e, por isso, é essencial procurar apoio profissional no surgimento dos primeiros sintomas.”
Os três elementos principais que caracterizam o burnout e o diferenciam de outras condições são:
- Exaustão: a sensação de que a pessoa está indo além de seus limites e desprovida de recursos, físicos ou emocionais, para lidar com as situações. Mesmo férias ou licenças por motivos de saúde não resolvem o aparente cansaço.
- Ceticismo: a reação constantemente negativa diante das dificuldades, a falta de interesse no trabalho, ou, ainda, a falta de preocupação com os resultados. O ceticismo é uma forma de insensibilidade, que pode ser agressiva mesmo em relação a amigos e familiares.
- Ineficácia: a sensação de incompetência, que ocorre quando a pessoa se sente sempre desqualificada, pouco reconhecida e improdutiva.
Dois resultados da presença desses elementos são o “absenteísmo”, quando a pessoa começa a faltar demais ao trabalho, ou o “presenteísmo”, que ocorre quando o indivíduo vai trabalhar mas está mentalmente ausente ou com o pensamento distante das atividades que realiza.
Tratamento
Assim como outros problemas psicológicos, o burnout precisa ser tratado por um psiquiatra e acompanhado por um psicólogo. Segundo o Ministério da Saúde, “o diagnóstico é feito por psiquiatras e psicólogos após análise clínica do paciente e são eles os profissionais de saúde indicados para orientar a melhor forma de tratamento, conforme o caso”.
A psicoterapia é o tratamento mais comum, mas o médico psiquiatra pode também prescrever medicamentos como antidepressivos e ansiolíticos.
Parte do tratamento consiste em mudar as condições do trabalho que levaram a pessoa à exaustão profunda. Também costuma-se recomendar atividade física regular, atividades de lazer, passar mais tempo com familiares e amigos, e exercícios para aliviar a tensão, por exemplo.
Estresse
O que é?
O estresse, diferente da depressão, é a maneira como o corpo reage diante de diferentes situações de grande esforço emocional. Ele também pode atingir pessoas de todas as idades.
Quando o corpo é estimulado, a mensagem chega à parte do cérebro chamada de hipotálamo, que a envia para uma glândula que fica logo abaixo. Ela produz hormônios que se espalham pela corrente sanguínea até chegar a outras glândulas que ficam acima dos rins. São elas que produzem os hormônios adrenalina e o cortisol.
A liberação de cortisol é importante para a manutenção da sobrevivência, mas deve ocorrer na dosagem certa. Quando atinge picos, pode causar problemas.
O cortisol é considerado o hormônio do estresse crônico porque, diferente da adrenalina, que causa as reações e vai embora, ele permanece no organismo. O cortisol inflama o organismo, que vai responder em vários órgãos: cérebro, intestino, células adiposas.
Mesmo situações positivas podem causar estresse, mas nesses casos a liberação de hormônios tende a estimular o indivíduo. No caso de situações negativas, o efeito emocional pode ser bastante nocivo à saúde.
As principais causas desse tipo de estresse são:
- Conflitos no ambiente familiar
- Dificuldades financeiras
- Problemas de saúde na família
- Dificuldades no trabalho ou a falta dele
- Relacionamentos tóxicos
- Divórcio
- Excesso de responsabilidades
Uma pesquisa online feita pelo Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS) com 2.195 brasileiros mostrou que 34% dos entrevistados tinham um nível de estresse considerado excessivo. Doenças ligadas aos sistemas nervoso e digestivo, em alguns casos, podem estar relacionadas ao estresse.
Apesar de nem sempre levar a transtornos, o estresse contínuo e intenso pode ser um indício de transtornos psiquiátricos.
O problema começa quando essas situações estressantes não podem ser superadas.
“Quando essa situação negativa é muito prolongada ou muito frequente, começa a ter sequelas, que podem virar doenças”, afirma a psicóloga.
Sintomas
Segundo a Sociedade Americana do Coração, comer, fumar ou beber para se acalmar, trabalhar de forma exagerada, adiar tarefas e dormir menos ou mais podem ser os primeiros sintomas do estresse.
Tratamento
Quando a pessoa já está inserida em uma situação de estresse, a orientação é identificar o principal fato estressante e resolvê-lo.
A principal forma de tratamento para o estresse é a prevenção das situações que podem causar grande esforço emocional. As formas de fazer esta prevenção são as mais diversas e cada pessoa encontra a melhor forma de relaxar.
Entretanto, algumas dicas valem para todas as pessoas, como fazer alimentações saudáveis e, principalmente, atividade física, que é responsável por liberar os hormônios do prazer: endorfina, serotonina e dopamina. Esses hormônios melhoram o humor e trazem a sensação de bem-estar.
Veja mais dicas para evitar o estresse:
- Respire fundo
- Faça atividades físicas
- Invista em trabalhos manuais
- Pratique meditação
- Durma bem
- Alimente-se de forma saudável
Segundo o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) está equipado para oferecer assistência aos pacientes com sofrimento ou transtorno mental, inclusive a síndrome de burnout e a depressão. Na rede pública, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são os locais mais indicados para o tratamento.
Fonte: Portal G1